«Mar Português», Arthur Bliss
A obra coral que aqui se seleciona é
uma criação singular no percurso de Arthur Bliss. Ela não faz parte do
reportório standard internacional.
Apesar das afinidades, em Portugal, o Grupo Vocal IDEA terá sido um dos seus
poucos intérpretes (nos anos 90, este grupo de câmara reunia alguns alunos, ou
ex-alunos, da Escola de Música do Conservatório Nacional, sob a direção de
Paulo Brandão – foi aí que conheci esta página coral). Trata-se de uma obra
para coro (SATB, a cappella) sobre um dos poemas mais conhecidos de Fernando
Pessoa, numa «tradução livre» para língua inglesa, realizada por Alan Goodison.
A obra resultou de uma encomenda do
Primeiro-Ministro do Reino Unido, Edward Richard George Heath, para um jantar
oferecido em honra do seu homólogo português, Marcelo Caetano, realizado no
Royal Naval College, no dia 16 de Julho de 1973. A estreia coube ao grupo vocal
St. Margaret’s Singers, sob a direção de Martin Neary. Este acontecimento
diplomático celebrava o 600º aniversário da aliança anglo-portuguesa.
Em 1950, a coroa inglesa tinha
atribuído a Arthur Bliss o título de Master
of the Queen’s Music. Esta fase da sua vida corresponde a uma mais evidente
presença de criações para as cerimónias reais e outros acontecimentos
diplomáticos – veio a falecer em 1975. Depois de um período marcado pelas
vanguardas pós-stravinskianas, Bliss abraça a estética que prolonga a
posteridade de Elgar na música britânica. As suas páginas mais conhecidas,
resultam da sua criação para o cinema e para o teatro – o filme Things to Come (1943-45) será, talvez, o
testemunho mais notável deste labor criativo. As influências coreográficas e
cinematográficas trouxeram para a sua música uma grande intensidade dramática,
que se exprime no uso colorístico das tensões harmónicas. Na obra que aqui se
apresenta, esses recursos estão ao serviço da evocação de uma heroicidade
nostálgica, que o compositor britânico descobre no poema de Pessoa. Na perícope
poética «O sea» («Ó mar»), que abre e fecha a obra coral, ouve-se o anúncio de uma epopeia.
Alfredo
Teixeira
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