Cantor, diretor de coros, compositor, Fernando Moruja (Fefe,
para os amigos) nasceu em Lomas de Zamora (Buenos Aires), em 1960. O universo
da música coral, na Argentina, ainda chora a sua morte – vítima de um
atropelamento, na «nochevieja» de 2004.
A obra que aqui se seleciona faz parte da coletânea «Piezas
Sacras». Trata-se de um conjunto de cinco criações sobre textos da liturgia
romana: «Ave Maria», «Pater Noster», «O bone Jesu», «Lux aeterna», «Hodie
Christus natus est». A sua linguagem é concisa e transparente, mostrando um
domínio notável da escrita vocal. O uso colorístico da modulação direta
transporta as suas harmonias para planos expressivos que deixam o ouvinte numa
curiosa tensão, uma vez que a direção é sempre imprevista. Inventiva e consistente, a sua escrita está ao alcance da interpretação por coros amadores, facto que
tem contribuído para sua ampla divulgação.
«Lux aeterna» é um fragmento da liturgia exequial romana (que
as «missas de Requiem» celebraram musicalmente). A oração litúrgica evoca a metáfora
da luz eterna («Lux aeterna luceat eis, Domine»), invocando a graça de Deus
para os que morreram («Que a luz eterna os ilumine, Senhor»). O texto
transporta uma história densa. É impossível regressar a este texto sem a
memória da sua recriação no Requiem de Mozart, ou sem a impressão visionária do
compositor húngaro György Ligeti, em obra criada em 1966 (criação celebrizada
pela banda sonora de «2001: A Space Odyssey», de Stanley Kubrick).
No contexto
de idiomas musicais muito distintos, descobre-se a mesma inquietação
transfigurante. Fernando Moruja concentra-se na simples dicção poética de «lux
aeterna», transportada por uma textura homorrítmica para um tempo onírico, densificada
pela luminosidade própria das harmonias cerradas e inacabada num breve vocalizo
que ornamenta aquele intervalo enigmático, o trítono.
Alfredo Teixeira
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