Eric Whitacre é um compositor americano, nascido no
Nevada, em 1970. Nos últimos anos, a sua criação musical tornou-se uma importante
referência, no panorama da música coral. Muitas das suas obras fazem parte do standard repertoire dos grupos corais
liceais e universitários nos EUA. A sua música exige, com frequência, grandes
massas corais, em razão dos múltiplos divisi
nas diferentes linhas vocais – essa aglomeração vertical cria uma sonoridade
que se tornou marca idiomática. O seu trabalho composicional usa com frequência
paralelismos, ostinatos, clusters e processos aleatórios, num contexto criativo
em que se descobre um forte compromisso entre o lirismo das linhas melódicas e
o uso colorístico da harmonia – por vezes próximo de algumas formas da «close
harmony». A sua música vocal apresenta uma grande disponibilidade para a
interpretação dos universos poéticos que a habitam – entre outros, Octavio Paz,
James Joyce, e.e. cummings, Frederico Garcia Lorca. Se algo se destaca no seu
processo criativo é, certamente, a forma como trabalha a relação entre o
colorido harmónico, a dicção melódica e os sentidos do poema.
A sua relação com o ciberespaço é, talvez, a
característica mais conhecida da sua atividade musical. As várias edições do
seu projeto Virtual Choir ampliaram o
número dos que cantam e ouvem a sua música, tornando-se um dos maiores sucessos da
plataforma Youtube. Nestes projetos, qualquer cantor, em qualquer ponto do
mundo, através do seu computador, pode gravar um dos naipes da obra
selecionada, participando, assim, na construção virtual de um coro à escala
planetária. O projeto concretizou-se já na realização internáutica de Lux Aurunque e de Sleep.
Prepara-se a terceira edição, com Water
Night.
A obra que selecionamos neste mês de Março documenta
bem os aspetos mais salientes do idioma composicional de Eric Whitacre: Sleep, para coro a cappella, com poesia de Charles Anthony Silvestri. A obra
transporta uma história singular. No Verão de 1999, Julia Armstong, mezzo-soprano
que vivia em Austin, contactou Eric Whitacre para lhe encomendar uma obra coral
em memória de seus pais. Enviou
ao compositor o seu poema favorito, Stopping
by Woods on a Snowy Evening, de Robert Frost. Em
Outubro de 2000, a obra coral de Whitacre foi estreada, com o título: Stopping by Woods. A obra conheceu um
enorme sucesso, não só na sua estreia, mas também nas interpretações que de
imediato se seguiram. Mas um problema jurídico viria a assombrar esta criação.
Eric Whitacre não tinha procurado a autorização
necessária para o uso do poema. Os detentores dos direitos da poesia de Robert
Frost conseguiram juridicamente a interdição do uso da poesia naquela criação
musical. Após uma difícil batalha jurídica, Eric Whitacre preferiu pedir ao
poeta e académico Charles Anthony Silvestri, seu colaborador noutros projetos,
que criasse um novo poema para a música já escrita. Trabalho difícil, sobretudo
porque Whitacre lhe pediu que mantivesse algumas palavras do poema original –
aquelas que tinham uma forte relação com certas estruturas harmónicas criadas.
O resultado é este verdadeiro hit da
música coral contemporânea. Só a versão realizada no âmbito do projeto Virtual Choir, no Youtube, já se
aproxima, a passos largos, com menos de onze meses, das 900000 visualizações (muitos destes internautas perderam
a oportunidade de conhecer a poesia de Robert Frost).
Alfredo
Teixeira
Eric Whitacre's Virtual Choir 2.0, «Sleep»
Eric Whitacre conducted the
VocalEssence Chorus & Ensemble Singers, The St. Olaf Choir, and the
160-voice Minnesota High School Honors Choir
Classic
Brit Awards 2011 - Eric Whitacre Singers
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